"Vi pessoas com lenços no rosto, máscaras de mergulho e óculos de natação para proteger os olhos. Não estava entendendo nada", diz o brasileiro Wolfgang Menke, 32, sobre o cenário que encontrou quando voltava, há três dias, de um passeio à parte asiática de Istambul, que é dividida pelo estreito de Bósforo.
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foto ilustrativa |
Em visita à cidade, Menke e a mulher, Renata Baccarat, 29, ficaram hospedados nos arredores da Taksim, praça que se tornou o epicentro dos protestos que se espalharam para outras áreas da Turquia.
Do porto onde param as balsas que retornam do lado asiático da cidade, no bairro vizinho à praça, "já dava para sentir o cheiro de gás lacrimogêneo [usado pela polícia] e estava quase impossível respirar", conta.
Enquanto tentava voltar ao hotel, Menke afirma ter visto "várias pessoas lavando o rosto com leite ou suco de limão, para aliviar os sintomas causados pelo gás".
"Não acho que isso ajudava, mas as pessoas estavam desesperadas. Até minha garganta estava fechada e meus olhos, vermelhos", diz.
Mais à frente, uma mulher advertiu o brasileiro: "Duas pessoas já morreram, não vá para lá". Quando viu o casal prosseguindo em direção ao hotel, ela gritou: "Corram e torçam para [o gás] não ter entrado no quarto de vocês".
Quando chegaram à praça Taksim, conhecido ponto turístico de Istambul, cercado por hotéis e restaurantes, a área era palco de confronto entre polícia e manifestantes.
"A praça virou um campo de guerra. Eles [os policiais] estavam jogando gás para todos os lados."
Segundo Menke, não houve qualquer suporte ou proteção a quem estava apenas visitando a área -e não participando dos protestos.
"Eles não queriam nem saber, jogavam as bombas [de gás] na direção das pessoas, estavam ignorando turistas. Só os hotéis ali foram solícitos, abrigando pessoas em seus corredores."
Durante a noite, o brasileiro diz que era impossível dormir, por causa das explosões.
"Fiquei na janela observando e era uma cena absurda. Ouvi uma garota gritando por uns 30 minutos. Falaram na TV que eram extremistas protestando, mas eu só vi idosos e jovens que não reagiam", diz.
Na manhã seguinte, quando Menke e a mulher viajariam à Capadócia, era difícil encontrar um táxi que os levasse ao aeroporto. Acabaram dividindo um carro com outro casal de turistas.
No aeroporto, o casal disse ter avistado um avião trazendo mais policiais -se trataria de um reforço para os protestos dos próximos dias.
MARÍLIA MIRAGAIA
DE SÃO PAULO(Folha)
DE SÃO PAULO(Folha)
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