Projeto é do deputado Dudu Hollanda (PSD), e deve ser votado em 30 dias.
Defensores dos animais afirmam que prática do esporte é cruel.
Tradicional em todo o Nordeste, a vaquejada está prestes a se tornar Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas. O projeto é de autoria do deputado Dudu Hollanda (PSD), e deve ser votado na Assembleia Legislativa (ALE) em julho.
Paralelamente ao trâmite no Lesgislativo, a Secretaria de Estado do Esporte, Lazer e Juventude se mostrou disposta a investir financeiramente na modalidade. Defensores dos animais, no entanto, são contra o que consideram uma "prática cruel".
O fato de a vaquejada fazer parte da cultura nordestina e ser praticada em todo o estado levou Hollanda a propor dois projetos. Um deles, de 2012, fala da normatização de rodeios e vaquejadas em todo o estado. O outro, de maio deste ano, pretende declarar a vaquejada como Patrimônio Imaterial. Os dois estão sendo apreciados pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da ALE.
“Alagoas não tem esse reconhecimento da vaquejada como patrimônio histórico. Existem milhares de praticantes, e ela, a cada ano, se propaga, cresce e se desenvolve, movimenta a economia e gera empregos . Quero contribuir com isso, e espero que a ALE analise a proposta e a aprove”, afirma o deputado.
No último dia 7 de maio, em nota publicada na Agência Alagoas, a secretária do Esporte, Claudia Petuba, afirma que a Pasta planeja investir em práticas esportivas próprias da região, como a vaquejada e capoeira, que precisaria ser ampliada no estado. Em entrevista ao G1, a secretária explicou que ainda não há projeto definido.
“A vaquejada, diferente da capoeira, não é tombada [considerada patrimônio]. Existe uma legislação que trata o vaqueiro como atleta profissional , e esse esporte é bastante praticado em nossa região. Logo, a secretaria precisa dialogar com todas as modalidades, pois é voltada para o esporte. Acredito que os governos devem dialogar com o que é feito pela sociedade”, explica a secretária.
Uma delas é a psicóloga Luceli Mergulhão, que já atua na causa há 20 anos. Para ela, não há comprovação de que a vaquejada traga qualquer tipo de contribuição positiva para a população.Discordância
Apesar de toda a tradição envolvida, defensores dos animais criticam a realização das vaquejadas, pois acreditam que é uma forma de crueldade contra os animais.
“Acredito que ninguém seja a favor de uma coisa dessas. Como é possível se divertir com o sofrimento dos animais? Nada que oprima, denigra ou inferiorize qualquer ser vivente é justo ou deve ser usado para entretenimento. É preciso respeito”, diz Luceli.
Durante as vaquejadas, os vaqueiros puxam os bois pelo rabo para derrubá-los em determinado ponto marcado previamente na arena. Ainda segundo Luceli, isso pode fazer com que os animais se machuquem bastante e até tenham ossos quebrados na queda.
“Fico constrangida com esses esportes, onde o homem mostra força em cima de um ser inferior a ele. É tudo muito ruim, muito pré-histórico. Se querem valorizar a cultura, que valorizem o bumba-meu-boi, por exemplo, que é histórico e folclórico”, conclui a defensora.
Monique Taciane, do grupo Pata Amada, concorda com Luceli. “Acho que esse dinheiro deveria ser revertido em políticas públicas, e não nesse tipo de esporte. Temos coisas bem mais sérias, como a castração e a instalação de uma delegacia de animais, que precisam de atenção. A vaquejada é lucro privado, e financiá-la não vai resolver a situação dos animais que estão em risco”, defende.
Às vezes, há um 'boi quebrado'. Quando isso acontece, ele é sacrificado"
Dudu Hollanda (PSD), deputado estadual
Dudu Hollanda, no entanto, não concorda que a vaquejada seja cruel. Para ele, acidentes na arena podem acontecer como em qualquer outro esporte. Ainda segundo ele, todos os anos, cerca de 150 vaquejadas são realizadas em Alagoas.
“A prática da vaquejada não tem como objetivo machucar nenhum animal. Evidentemente que, às vezes, há um 'boi quebrado' [que é quando o animal quebra a pata, segundo o deputado]. Quando isso acontece, ele é sacrificado, como qualquer boi que vai ao matadouro, e sua carne será vendida. O abate já existe, independente da vaquejada. Mas ainda assim, reconheço que o assunto é polêmico”, afirma Hollanda.
A secretária do Esporte também minimiza a polêmica. “Atrito não é exclusividade da vaquejada. Lesões em esportes são normais. Já teve jogador que morreu em campo. Teve também o caso do Neymar, que teve sua carreira temporariamente interrompida por uma entrada mais violenta [durante uma partida da Copa de 2014]. Acidentes acontecem”, conclui.
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